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World Athletics revê distâncias da marcha… outra vez

World Athletics revê distâncias da marcha… outra vez

Imagens: World Athletics. Montagem: O Marchador

O Conselho da federação internacional de atletismo (a que chamaram World Athletics, nome cuja tradução para português não faz sentido) deliberou na reunião de 3 e 4 de Dezembro, no Mónaco, alterar as distâncias oficiais das provas de marcha atlética. Assim, os 20 km dão lugar a provas de marcha com a distância de meia-maratona (21,097 km) e as de 35 km passam à distância igual à da maratona (42,195 km). Estas alterações entram em vigor nas grandes competições organizadas sob a égide da federação internacional a partir de 1 de Janeiro de 2026.


Por sua vez, nos campeonatos do mundo de juniores (sub-20), as provas masculina e feminina de marcha na distância de 10 mil metros darão lugar a competições sobre 5000 metros. A decisão será implementada a partir da edição de 2026 dos referidos campeonatos, em Eugene (Estados Unidos).

Como justificação, o órgão federativo internacional argumenta que, desta forma, irá «ajudar a contextualizar os desempenhos notáveis dos marchadores, tornar a marcha mais compreensível para os adeptos e incentivar a massificação da participação».

A decisão do Conselho da federação internacional vem na sequência de outras alterações adoptadas no âmbito da marcha atlética, tanto no que se refere a distâncias (com a eliminação dos históricos 50 km, a introdução dos 35 km como distância oficial e, depois, de estafetas mistas) como no domínio regulamentar (zonas de penalização).

Depois de décadas (na verdade, praticamente um século) em que a marcha se fundou na cultura das duas distâncias olímpicas de 20 e 50 quilómetros, hoje universalmente consideradas distâncias clássicas da marcha, eis que, em poucos anos, as distâncias oficiais da marcha nas grandes competições internacionais levaram uma tremenda reviravolta, que talvez poucos consigam entender. Primeiro introduziu-se os 35 km como distância de substituição dos 50 km nos mundiais de atletismo, invocando-se que essa distância estaria a meio caminho entre as duas quilometragens tradicionais. Não foi preciso esperar muito tempo para perceber o que os especialistas tinham antevisto: os 35 km não serviam como alternativa para os atletas de 50 km, mas sim como extensão para os dos 20 km.

Perante o insucesso da empreitada, decidiu-se imediatamente que o programa olímpico integraria a estafeta mista de maratona em marcha, uma invenção em que um homem e uma mulher fazem de modo alternado quatro percursos com cerca de dez quilómetros de extensão cada um. Apesar de olímpica, a prova de estafetas parece não suscitar grande entusiasmo entre os marchadores, para além daqueles que almejam uma participação internacional.

Os argumentos com que pretendeu justificar-se essas decisões eram parecidos com os de agora: dar mais expressão à marcha; torná-la mais compreensível para os espectadores; transformá-la num espectáculo pronto a consumir pelas multidões. Tudo isso se revelou infundado e inconsequente.

Agora surgem as alterações anunciadas no início desta semana e que, naturalmente, suscitam algumas perguntas. Essas alterações encaixam-se em algum plano de desenvolvimento da marcha? Obedecem a alguma estratégia claramente delineada? No processo de decisão, os interessados (atletas, treinadores, juízes, dirigentes, organizadores de provas) foram ouvidos? Houve algum debate prévio? Quem aprovou estas propostas estava esclarecido sobre o que estava em causa?

A estas perguntas sobre o passado (muito recente) pode juntar-se algumas sobre o futuro (muito ou pouco próximo). Qual vai ser a próxima mudança? E vai ser adoptada daqui a quantos meses? Como é que os digníssimos membros do Conselho da federação internacional acham que alguém pode planear a preparação de atletas a médio e longo prazos com esta instabilidade decisória?

Esta problemática tem, no entanto, um aspecto claro: torna-se cada vez mais evidente a falta de credibilidade das pretensas inovações dos dirigentes mundiais do atletismo, muito mais empenhados em fazer experiências com base em teorias não comprovadas do que em implementar medidas que possam de facto revitalizar uma modalidade (atletismo) e uma especialidade (marcha, como poderia ser outra qualquer) que já viveram tempos mais serenos e estáveis. Num mundo cada vez menos solidário e mais hedonista, o que menos se precisa é de jogadas de baixo marketing e mais se exige contributos efectivos para o progresso. Sem desrespeito pela cultura e pela memória do desporto, construídas ao longo de décadas, mesmo séculos, de associativismo e não de arrivismo.

A propósito, uma pergunta final (coisa de somenos importância para alguns, mas decisiva quando se trata de marcha atlética): as ditas novas provas de meia-maratona e maratona de marcha são para serem disputadas em linha (como sucede nas corridas) ou em circuito (como é usual na marcha)? Seria impensável os distintos membros do Conselho da federação não se terem lembrado deste detalhe.

Mas nunca se sabe…

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